terça-feira, 7 de junho de 2011

Vá diz...



Quanto, quanto me queres? – perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste,
A luz dos teus senti a luz da vida.
Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida…
Beijámo-nos, então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar…
Não perguntes, não sei – não sei dizer:
Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.
in Poemas de Amor, Antologia de posia portuguesa, Organização e prefácio de Inês Pedrosa, Publicações Dom Quixote


Pintura: Vieira da Silva

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que cativaste





Foi então que apareceu a raposa.
- Bom dia! - disse a raposa.
- Bom dia! - respondeu delicadamente o principezinho que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho. – Estou tão triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Ainda ninguém me cativou...
- Ah! Então, desculpa! - disse o principezinho.
Mas pôs-se a pensar, a pensar, e acabou por perguntar:
- O que significa "cativar"?
(…)
. O que significa "cativar"?
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. – Significa criar laços.
- Criar laços?
- Isso mesmo - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou se não uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me cativares, passaremos a precisar um do outro. Passarás a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passarei a ser única no mundo...
- Começo a compreender - disse o principezinho.
(…)
- A perfeição não existe...- disse a raposa.
Mas a raposa voltou a insistir na sua ideia:
- Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu, caço galinhas e os homens, caçam-me a mim. As galinhas são todas iguais umas às outras e os homens são todos iguais uns aos outros. Por isso, às vezes, aborreço-me um bocado. Mas, se tu me cativares, será como se o sol iluminasse a minha vida. Distinguirei, de todos os passos, um novo ruído de passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? Eu não como pão e, por isso, o trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me fazem lembrar de nada. E é triste. Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Por isso, quando me tiveres cativado, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de amar o barulho do vento a roçar no trigo…
A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o principezinho.
- Cativa-me, por favor - acabou finalmente por dizer.
(…)
- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, na relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não me dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas, de dia para dia, podes sentar-te cada vez mais perto...
O principezinho voltou no dia seguinte.
- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a vestir o meu coração...São precisos ritos.

- Adeus - disse a raposa. Vou-te contar o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que cativaste. Tu és responsável pela tua rosa...
- Sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer. (...)
Por mais que saiba ...

sábado, 4 de junho de 2011

Amar não acaba






Tive algumas dúvidas no titulo do meu blog. Mas tive de lhe dar um nome que falasse um pouco de mim. Ele é sugestivo, ele faz parte de mim, ele é forte, mas é verdadeiro, pelo menos na minha vida.
Considero que Amar é das coisas mais difíceis da vida, não estou a falar do Amor em que namoramos, em que o lógico é casar, ter filhos, olhar para o outro como uma companhia e, na maior parte dos casos o outro já nem existe, só presencialmente. Este Amor é o mais vulgar, é o mais frequente. Eu estou a falar de Amar como Maria Teresa Horta e reflectir como Maria do Rosário Pedreira. São duas mulheres muitos diferentes, mas que se complementam, ou melhor complementam-me. Concordo inteiramente com Natália Correia: "Quem não é capaz de enfrentar um escândalo por amor, não é capaz de amar...", como eu concordo com ela, só privilégio de alguns.
"Tenho sofrido todas as perseguições a que estão sujeitos os contrabandistas dos diamantes que habitem as palavras proibidas", também da mesma escritora. Bem penso que me estou a desviar do assunto, mas quando escrevo gosto de divagar, de ir escrevendo, de ir ligando os meus pensamentos, os meus sentimentos.
O Amor pode ser entre homem e mulher, pai e filho, amigos, etc... mas por vezes concordo por demais com Marcello Duarte Mattias, sobre as pessoas "E, de súbito, por uma razão aparentemente anódina, perde-se o respeito por alguém que até aí no-lo merecera...Talvez que, feitas as contas, não o merecesse de todo." Por outro lado concordo inteiramente com alguém que adora o Mar sobre o seu poder, a sua força, mas sou obrigada a concordar mais com as palavras de Thomas Mann "Penso muitas vezes no dia em que vislumbrei o mar pela primeira vez. O mar é grande, o mar é imenso, o meu olhar vagueava pela praia fora e esperava ser libertado: mas lá ao fundo, porém, estava o horizonte. Por que razão tenho eu um horizonte? Da vida, eu esperei o infinito (in Desilusão).
Desde que sou mãe "Deixei de me preocupar com o tempo. Não é uma linha, é um vento, uma onda do mar que é preciso seguir (...) O único tempo real é acordar de manhã, esfregar as mãos e dizer: vamos viver este dia (Rui Chafes).
Para mim "Amar não acaba. É como se o mundo estivesse à minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera (Clarice Lispector).
Mas há um tempo para partir, mesmo quando não há um lugar certo para ir.
(Tennessee Williams).

Imagem: Man Ray
(Pesquisa (IPLG)


Morrer de Amor


















Morrer de amor

ao pé da tua boca

Desfalecer

à pele

do sorriso

Sufocar

de prazer

com o teu corpo

Trocar tudo por ti

se for preciso

Maria Teresa Horta



Imagem: Man Ray